O ano de 2025 marca a mudança dos principais eventos da Fermentec para Ribeirão Preto. Agora o Multiplan Hall do Ribeirão Shopping também é a nova casa da Reunião Início de Safra, a exemplo da Reunião Anual que foi realizada no ano passado no mesmo local. A estreia teve recorde de público e de usinas participantes. No total, foram 246 profissionais do setor, 25 usinas representadas no evento e 18 expositores/patrocinadores. Com uma estrutura moderna e a comodidade de um centro de convenções dentro de um shopping com acesso a diversos serviços, os participantes puderam avaliar a safra 2024/25, uma das mais desafiadoras em termos de matéria-prima dos últimos tempos, e direcionar as ações para mais um ano de trabalho liderando a produção de etanol e açúcar no Brasil.
Confira um resumo das palestras da Reunião Início de Safra de 2025 da Fermentec:
Durante a abertura, o presidente da Fermentec, Henrique Berbert de Amorim Neto, destacou que o mercado de etanol vive um momento especial. A porcentagem de etanol na gasolina é cada vez maior em diversos países para reduzir os efeitos dos gases de efeito estufa. A Índia hoje mistura 12,5% de etanol na gasolina com o objetivo de chegar a 25%. No Brasil, essa proporção é de 27,5%, mas a Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que permite a adição de até 35%. Portanto, o Brasil terá que dar conta não só do mercado interno, mas externo também. A tecnologia e a inovação estão no centro para aumentar a eficiência das usinas. Em 2019, três usinas utilizavam o GAOA (inteligência artificial da Fermentec) nas análises da produção de etanol. Em 2025, já são 20 que utilizam para etanol e 13 para açúcar. A busca pelo conhecimento é o grande diferencial para a eficiência. A inovação não vem de um só lugar. É na colaboração e no compartilhamento de saberes que encontramos as soluções mais impactantes. Por isso esse encontro no início do ano é tão importante.
As queimadas desafiaram o ritmo, a estiagem desafinou a matéria-prima e as perdas foram notas dissonantes, mas as usinas que ajustaram sua regência e coordenaram cada seção com precisão conseguiram transformar o caos em um espetáculo de resiliência e aprendizado. Este foi o recado de Claudemir Bernardino em sua apresentação sobre a avaliação de safra de 2024. A safra foi marcada por condições climáticas adversas e as queimadas que impactaram a produção de açúcar de etanol. Mais de 70% das usinas apresentaram queda no RTC, 63% registraram aumento das perdas indeterminadas e 68% tiveram queda na extração. Como passar por essas dificuldades na próxima safra? O setor aposta em uma transformação digital robusta para 2025 para aprimorar a eficiência dos processos industriais. Entre os recursos estão o monitoramento em tempo real com equipamentos analíticos para ajustes precisos e imediatos, biotecnologia aplicada com desenvolvimento de leveduras selecionadas e personalizadas e avanços em metagenômica e a capacitação técnica dos profissionais do setor.
Silene de Lima Paulillo abordou em sua palestra a importância das leveduras persistentes no processo e apresentou cases de monitoramento de fermentações mais estáveis. As quatro leveduras mais utilizadas pelas usinas no Brasil foram selecionadas pela Fermentec, sendo que 92 delas utilizam a PE-2, 75 a CAT-1, 67 usam a FT858L e 53 usinas têm a Fermel em seu processo. Silene apresentou cases de usinas em que a matéria-prima não era a ideal, como a cana de incêndio, mas ter uma levedura robusta e adaptada ao processo garante uma fermentação eficiente e estável. Silene passou um roteiro para uma fermentação com eficiência para a safra 2025/26: iniciar a safra com leveduras selecionadas e personalizadas, avaliar as leveduras dominantes com potencial fermentativo, monitorar as leveduras com cariotipagem mensal e realizar as correlações entre as leveduras e os indicadores do processo.
Eder Silvestrini destacou o papel do NIR (Near Infrared) como tecnologia-chave na Indústria 4.0, com grande potencial para reduzir perdas e garantir a qualidade na produção de açúcar e etanol por meio do monitoramento online. Silvestrini apresentou casos práticos, como a avaliação da cana na moenda – destaque na Alta Mogiana – e o monitoramento da cor do açúcar em tempo real. Em sua palestra também foram abordados projetos em parceria com a FINEP e a UFSCar, concluídos em laboratório e planta piloto e que serão avaliados em escala industrial em 2025, além do uso do NIR na unidade Ipê, do Grupo Pedra, para monitorar e detectar o final da fermentação. Ao final, reforçou que a capacitação dos colaboradores é essencial para transformar inovação em resultados concretos.
Na Reunião Anual de 2024, o público já conseguiu ter uma amostra do que seria a IA generativa da Fermentec, mas agora os participantes foram devidamente apresentados à IRIS, que integra os recursos da Fermentec para dar respostas inteligentes a questionamentos disponíveis na base de conhecimento. O nome é a sigla de Integrated Resource for Intelligent Systems. A ferramenta está disponível a todos os clientes Fermentec e conta com uma assistente virtual, que não pode ser confundida com um chatbot. Na Reunião Início de Safra, Paulo Vilela explicou ao público como funciona a IRIS e as boas práticas para extrair o melhor desta poderosa ferramenta que abrange agrícola, açúcar, etanol, controle laboratorial e novas tecnologias. Uma versão virtual do fundador da Fermentec, Henrique Vianna de Amorim, apresentou um breve tutorial. A IRIS utiliza protocolos avançados de proteção de dados para garantir que todas as interações entre o cliente e a assistente virtual sejam seguras e confidenciais.
A Reunião Início de Safra contou com a participação do professor da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp de Botucatu, Carlos Alexandre Costa Crusciol, que trouxe informações sobre o impacto do estresse hídrico e das altas temperaturas na qualidade da matéria-prima. Explicando os detalhes das células das plantas, o professor afirma que as temperaturas extremas são mais prejudiciais ao desenvolvimento da cana do que a falta de água. Uma das funções da água na planta é justamente atuar na regulação térmica dos tecidos. Uma cana sob estresse aprofunda a raiz para buscar água, aumenta a espessura da parede celular, muda o ângulo da folha para gerar sombra e elimina folhas para não perder mais água. Para se defender, a cana começa a consumir açúcar, reduzindo o ATR. Temperaturas extremas podem ser mais danosas para as plantas do que pragas e doenças.
Cana estressada, indústria preparada. Esse foi o alerta de Thiago Mesquita diante de uma safra desafiadora com estiagem prolongada, cana bisada e incêndios. Thiago fez uma analogia com uma equipe de Fórmula 1: em alguns momentos os carros enfrentam uma pista molhada e imprevisível, mas com resiliência e antecipação é possível garantir que a usina se mantenha competitiva mesmo em condições adversas. Uma cana queimada causa impacto na extração, por isso é preciso calibrar a moagem e monitorar constantemente a acidez, o brix e a dextrana. No decorrer do processo, essa matéria-prima também vai provocar outros impactos na indústria afetando a eficiência. Portanto, a gestão deve andar ao lado da parte técnica e das ferramentas tecnológicas. Um bom planejamento e o monitoramento constante de parâmetros são pontos cruciais para a usina atuar de forma preventiva e fazer adaptações rápidas para corrigir os desvios.
Osmar Parazzi abordou as dificuldades na produção de açúcar com cana de baixa pureza. Os motivos da redução de pureza da cana podem ter origem na fisiologia da planta (ciclo da cana, tipo de solo, regionalidade, variedade e florescimento) ou em danos físicos (queima acidental, geada, praga, estresse hídrico intenso). As usinas possuem perfis diferentes de pureza que se alteram a depender da região onde as unidades estão. A maior preocupação na última safra foi a pureza afetada por danos físicos que causam aumento de dextrana, compostos fenólicos, viscosidade, açúcares redutores e ácidos orgânicos. Osmar destacou pontos importantes a serem trabalhados em relação à pureza: manejo, direcionamento da matéria-prima, tratamento de caldo intensivo, uso de insumos específicos e adequações operacionais. No entanto, essa não é uma regra geral, já que as ações variam de acordo com as dificuldades de cada unidade.
O destaque de Guilherme Marengo foi a gestão da água na indústria. Há empreendimentos que estão enfrentando dificuldades para conseguir licença para captação de água, além da própria escassez de chuvas. Diante destas dificuldades, é importante adotar estratégias para reduzir a captação na indústria, o que demanda pensar em processos e equipamentos, como condensadores evaporativos que reduzem o consumo de água. Uma medição de todos os consumos na usina é fundamental para conseguir gerenciar os recursos hídricos. A vinhaça é um exemplo. Cada litro de etanol produzido gera 12 litros de vinhaça. Ao aumentar o teor alcoólico da fermentação, a vinhaça fica mais concentrada, reduzindo o consumo de água. A criação de um comitê de gestão de água é uma alternativa para controlar a utilização do recurso na usina e propor medidas de redução do consumo.
No encerramento, Claudemir Bernardino voltou ao palco do Multiplan Hall para destacar quatro pontos importantes que deveriam ser transmitidos aos clientes durante o encontro:
Inovação, por meio de pesquisas, novas tecnologias e aprimoramento dos processos industriais;
Soluções personalizadas para otimizar a eficiência, reduzir custos e aumentar a produtividade dos clientes;
Capacitação contínua, qualificação é fundamental para o diferencial competitivo;
Parcerias que fortalecem o ecossistema de inovação.
A tecnologia vai reinventar os negócios, mas as relações humanas continuarão sendo a chave para o sucesso. O equilíbrio entre habilidades técnicas e comportamentais é o pilar para o desenvolvimento sustentável. Também é importante integrar os profissionais mais experientes com a nova geração. Então, um ponto determinante são as pessoas. Quem quer dar um passo a frente é quem está disposto a mudar.