A Reunião Anual de 2024 marcou uma nova era do evento realizado pela Fermentec há 47 anos. Em um novo espaço, realizada no Multiplan Hall no Ribeirão Shopping, o evento contou com mais de 800 participantes, 22 patrocinadores e 50 expositores, quase o dobro em relação aos anos anteriores. Com uma estrutura mais ampla, moderna e com as comodidades do Ribeirão Shopping, os participantes usufruíram um conteúdo técnico de alto nível com conforto e praticidade.
As palestras foram divididas em cinco painéis: estratégico, etanol de milho, Açúcar, Tecnologias Digitais e Processos e Tecnologias Industriais.
Henrique Berbert de Amorim Neto abriu a Reunião Anual. Superando desafios, criando oportunidades é o tema da Reunião que reflete bem como o mercado está favorável para as energias renováveis. Amorim destacou que desde o programa Proálcool o Brasil nunca teve tantos investimentos e oportunidades como agora. O tripé etanol de primeira geração, açúcar e bioeletricidade estão no foco deste processo de evolução das tecnologias e inteligência artificial. A Fermentec investe neste avanço com inovação, capacitação de pessoas, pesquisa e desenvolvimento com modelos de negócios diferentes, como pesquisa aplicada em parceria com os clientes, novos projetos patenteados, corporates com empresas que querem testar seus produtos e fomento. Teremos nos seis painéis desta Reunião Anual muita tecnologia, caminhos a serem seguidos, novos níveis de excelência e todas as oportunidades que teremos no setor.
Painel estratégico
O painel estratégico iniciou sua programação com uma das maiores referências do setor no Brasil, Plínio Nastari, da Datagro, que fez uma reflexão sobre o que o Brasil já atingiu em termos de matriz energética limpa e renovável e que pouco se fala sobre isso. Em 2023, a matriz energética do Brasil era 49% renovável, sendo que a média mundial é de 14% e a média OCDE é 11%. No entanto, o país poderia ser mais de 50% renovável se fosse utilizado todo o potencial da frota de veículos flex do Brasil. Nastari fez um panorama sobre o desempenho da safra atual em diversos aspectos, sobre o mercado internacional e balanço mundial. O Brasil hoje tem muitas oportunidades, muito aumento de produtividade para ser capturado, o que propicia um momento virtuoso, mas segundo Nastari o problema é que se fala pouco sobre os 49% de energias renováveis do país.
Na segunda palestra, o professor Gonçalo Pereira, da Unicamp, falou sobre uma visão equivocada que se tem hoje sobre a “novidade” do hidrogênio na produção de energia. Na visão do professor, o uso do hidrogênio puro é uma ideia pior do que a carro elétrico porque é uma molécula muito pequena, com muita energia que provoca desgaste nas partes mecânicas do veículo, ou seja, não há uma boa relação custo-benefício. Portanto, com o carro elétrico está se trocando petróleo por mineração. A novidade é que sempre foi o hidrogênio. Um caminhão-tanque que transporta etanol carrega cinco vezes mais hidrogênio do que um veículo que carrega o hidrogênio puro e ainda tem os requisitos de baixa temperatura que encarecem sua manutenção. O hidrogênio está lá, colado no etanol. Por isso que o etanol com motor a combustão é o melhor investimento, gera empregos e promove o desenvolvimento social.
Ingrid Gregorio, da Horiens, explicou o funcionamento do sistema Agrymetric que une agrometeorologia e ciência de dados para contratar um seguro paramétrico agroclimático. Manejo, solo e genótipo são requisitos de produtividade que estão nas mãos do produtor, já o clima não pode ser controlado. O seguro é baseado em simulações de culturas que avaliam os riscos climáticos com dados robustos para a criação de modelos com machine learning. Os dados climáticos são incorporados aos do cliente e da própria área agrícola da propriedade.
Mário Lúcio Lopes apresentou novos projetos da Fermentec que vão além do açúcar e do etanol e como funcionam as etapas de desenvolvimento de produtos. Entre os novos projetos que estão em desenvolvimento, Mário destacou o Cellev para produzir levedura a partir do bagaço de cana, o bioplástico produzido do açúcar da cana (L-Lactato) e o Oleolev que transforma compostos orgânicos da vinhaça em óleo e antiespumante. Já entre os projetos que avançaram e já estão no mercado estão o Medfloc, que faz a medição on-line da floculação do levedo diretamente na dorna, uma dificuldade que muitas usinas enfrentam. Por fim, Mário explicou como a levedura PE-2 Plus, que passou por uma edição genética, faz a fermentação junto com o inibidor vegetal que combate as contaminantes. Neste processo, Mário ressalta que a parceria com os clientes é fundamental. Nestes cinco projetos, 18 usinas e instituições de pesquisa participaram das etapas de desenvolvimento.
Encerrando o painel estratégico, o primeiro da Reunião Anual da Fermentec, Claudemir Bernardino e Fernando Henrique Giometti falaram sobre inovação e eficiência. Empresas ambidestras são as que conseguem equilibrar exploração de novas oportunidades com otimização das operações existentes. Hoje, a palavra-chave para a robustez financeira das organizações é diversificação, mas há oportunidades que vão além. Entre os caminhos para a inovação estão a biotecnologia na seleção de leveduras, leveduras personalizadas, que apresentam maior taxa de implementação entre os clientes, metagenômica, engenharia genética, analisadores on-line, além das ferramentas construídas por IA generativa. O próximo ciclo de inovação é iminente e os avanços caminham para uma nova revolução no setor que passa por uma transformação digitais com soluções ágeis, integradas e em tempo real. A melhor forma de prever o futuro é cria-lo.
Painel Etanol de Milho
O professor Luís Cortez, da Unicamp, abriu o Painel Etanol de Milho. A indústria do etanol de milho progride forte no Brasil há dez anos e está na liderança do processo em tecnologia e estrutura. A tendência é o Brasil se tornar um grande produtor de milho sendo o único país a adotar o modelo flex full com a utilização de plantas de cana e milho integradas. O etanol de milho e sua produção em destilarias flex full representam uma grande oportunidade para o Brasil, tanto do ponto de vista energético, econômico, ambiental e social.
Guilherme Marengo Ferreira destacou a oportunidade de uma forte sinergia entre cana e milho no mesmo parque industrial. A proposta para potencializar as vantagens da usina multiflex é desviar todo o caldo da cana para a produção de açúcar e utilizar o milho para a produção de etanol. Mesmo utilizando as duas matérias-primas para a produção de etanol, é possível juntar os vinhos, os mostos e outros componentes da fermentação. Além disso, a usina multiflex é rica em coprodutos, como o DDGS, que pode ser usado na alimentação de animais, bio-óleo, entre outros. Ferreira comprovou essas vantagens apresentando um estudo de caso de uma planta de etanol de milho, DDGS e bio-óleo com o desvio do caldo da cana para produção de açúcar que operou por 330 dias com uma produção de 99 milhões a mais de litros de etanol sem plantar um pé a mais de cana.
Alexandre Godoy encerrou o painel e reforçou que não é só a viabilidade técnica que está sendo levada em conta na integração com a cana, mas sobretudo no aspecto econômico. Além do biocombustível, esse processo é rico em coprodutos como levedura seca, DDGS, óleo e gás carbônico. No mercado, a cadeia do etanol de milho movimenta outros setores, como a pecuária de confinamento e granjas de aves e suínos que podem utilizar o DDGS para produção de ração animal. Toda essa integração é possível com a tecnologia StarchCane, a única no mundo que recicla leveduras da fermentação com milho. Cada tonelada de milho pode produzir entre 440 e 460 litros de etanol, até 350 quilos de DDGS e 22 quilos de óleo. Mesmo no estado de São Paulo que paga mais caro pelo milho o processo ainda é plenamente viável economicamente investir na integração das duas matérias-primas.
Painel Açúcar
O Painel Açúcar fechou o primeiro dia de palestras da Reunião Anual da Fermentec. Na primeira, foi apresentado um case industrial do projeto da engenharia Fermentec para ampliação da evaporação e fábrica de açúcar por Claudinei Rodrigues, da usina Graneli e Murilo Vilela, da Fermentec. O projeto foi implantado em seis meses nas partes de evaporação, cozimento e cristalização.
Encerrando o Painel Açúcar, Rudimar Cherubin e Eduardo Borges explicaram quais parâmetros influenciam o teor de cinzas no açúcar e como controlá-los. Cinzas são todo material mineral que sobra após a queima da matéria orgânica do açúcar. A primeira revelação do estudo apresentado foi sobre o teor de potássio, já que quanto maior é sua concentração, maior o teor de cinzas. A variação no teor de sulfato e cloreto também tem uma forte influência nas cinzas. Os processos para controlar as cinzas variam de acordo com o fator que está causando o problema. Na palestra foram abordados os pontos críticos e os detalhes que devem ser observados para controlar as cinzas no açúcar.
Painel Tecnologias Digitais
O segundo dia da Reunião Anual da Fermentec começa com uma aparição surpreendente do fundador da Fermentec, Henrique Vianna de Amorim, por inteligência artificial (IA), dentro do Painel Tecnologias Digitais. Paulo Vilela e Fabrício Rodrigues, com o suporte de Julio Muniz, fizeram uma entrevista com o Dr. Amorim que estava no telão por inteligência artificial. Amorim explicou que a transformação digital acontece quando as empresas começam a usar tecnologias para melhorar tudo o que fazem, desde aplicativos a sistemas sofisticados de automação. Para ter sucesso nesta transformação, as organizações devem estar atentas a quatro princípios: liderança forte e apoio dos altos executivos, capacitação e treinamento dos colaboradores, gestão de mudança com estratégias que facilitam a transição cultural e políticas de segurança com proteção de dados e recursos contra ameaças cibernéticas. No mundo hoje, a constante é a mudança e quem prospera são as empresas que se adaptam.
Na segunda palestra do dia, Felipe Furlan e Teresa Zangirolami da UFSCar falaram sobre os dois anos do projeto em parceria com a Fermentec que utiliza inteligência artificial para monitorar a fermentação com especialista virtual e softsensors para detecção de falhas. A professora Teresa explicou como o NIR está sendo utilizado no projeto, como os requisitos para a coleta dos espectros, do desenvolvimento dos softsensor, métodos analíticos e computadores utilizados na pesquisa. Foram feitas 20 fermentações com diferentes leveduras para testar o maior número de possibilidades com o NIR. Os testes de validação mostraram que o modelo feito em laboratório descreveu perfeitamente a fermentação feita no reator de 100 litros na planta piloto. Para alcançar resultados confiáveis com o NIR é fundamental ter uma equipe multidisciplinar. A partir do momento em que o modelo ideal é alcançado há diversas possibilidades de aplicação.
Gestão para a excelência foi o tema da palestra de Eduardo Almeida, da usina Santa Cruz (São Martinho). Ele começa explicando que excelência é quando se ultrapassa o básico. Como fazer a gestão com excelência? Organizando as iniciativas com algumas ações. A primeira é entender o fluxo atual, a situação de momento, fazer o levantamento das dores, estar no dia a dia da rotina e mapear as ferramentas existentes para não criar nada novo de forma desnecessária. O segundo passo é simplificar, eliminar desperdícios e olhar os direcionadores estratégicos da empresa. O terceiro passo é fazer a padronização com um fluxo otimizado, definição de papeis e responsabilidades e um ciclo de checagem de ações. Após cumprir essas etapas é que chega à digitalização. Seguindo esses passos, a usina criou um sistema de gestão em um único ambiente.
Nesta safra com maior quantidade de cana bisada além de um clima mais seco aumentou os desafios para alta eficiência. Thiago Mesquita apresentou três cases de usinas para mostrar os impactos da cana bisada na indústria. Entre os indicadores, 19 deles foram diretamente impactados, principalmente em relação à matéria-prima e extração. Cada 10% de cana bisada reduz em 0,1 ponto percentual a extração na moenda. Queda na pureza, aumento de álcool dentro da cana e de utilização de insumos foram observados na safra. Mesquita apresentou medidas para minimizar os impactos na extração, no tratamento do caldo, na fábrica de açúcar e na fermentação. As três unidades conseguiram controlar o impacto da cana bisada no processo ao longo da safra.
Osmar Parazzi Jr. apresentou cases de tratamento do fermento com ácido clorídrico em duas usinas nesta safra. Desde 2008 a Fermentec faz estudos com o ácido clorídrico como alternativa ao ácido sulfúrico. No case da usina da Pedra durante o acompanhamento da Fermentec houve diferenças estatísticas, mas não relacionadas ao uso do ácido clorídrico, que se mostrou uma alternativa viável no tratamento. Na usina Lins, interferências no processo, como a troca de fermento, foram contornadas com dados históricos da unidade, para permitir a manutenção da avaliação que também concluiu pela viabilidade do ácido clorídrico.
Encerrando a programação da manhã da Reunião Anual, o assunto foi metagenômica com Silene Paulillo, que apresentou três cases sobre o uso desta metodologia para combater a contaminação. Com a metagenômica é possível buscar apenas os DNAs das bactérias e permite responder à pergunta: quem está contaminando o processo? Milhares de sequências de DNA são analisadas e centenas de espécies de bactérias são identificadas, mas apenas as mais predominantes têm o estudo aprofundado. No primeiro case foram identificadas bactérias que formavam biofilmes, o que permitiu a troca do antibiótico e outras adições na fermentação. Já no segundo case o objetivo era rastrear a origem da bactéria que ia do mosto para o vinho. Assim, a usina descobriu que havia problemas na higienização, que permitiu a entrada das bactérias. No último case, foram analisados diversos componentes da fermentação para a usina obter uma visão mais completa. As descobertas, que a maioria das bactérias eram termófilas, levaram à checagem dos pontos de controle de temperatura que estavam com problemas.
Eder Silvestrini apresentou os resultados de uma pesquisa que teve o objetivo de conhecer as reais perdas envolvidas na degasagem, uma etapa do processo ainda pouco avaliada nas destilarias. O trabalho foi feito em parceria com a Ipiranga Mococa. Em razão da complexidade desta análise foi feita uma quantificação indireta. Entre os resultados, a pesquisa mostrou que a temperatura foi um ponto de impacto nas perdas com degasagem. Em baixas temperaturas, apesar das perdas serem menores também ocorrem e podem variar de 340 mil a mais de 3 milhões de reais em uma safra, considerando uma produção de etanol diária na faixa de 350.000 litros/dia.
Para encerrar o Painel Processos e Tecnologias Industriais, Edemilson Lacerda alertou para os cuidados necessários na produção do etanol especial, que é utilizado em diversas aplicações, como na produção de bebidas (vodca, gin, licores), alimentos (vinagre), cosméticos, aromatizantes e produtos de limpeza. Um dos cuidados mais importantes é na separação dos contaminantes em que apenas o conhecimento dos pontos de ebulição pode não ser suficiente. Isso porque existem outros fatores, por exemplo a formação de azeótropos e a volatilidade relativa que devem ser consideradas na eliminação eficiente desses contaminantes sem provocar perdas excessivas de etanol. Outra parte do processo que merece atenção são as perdas na degasagem que podem representar mais de 3% da produção. Edemilson concluiu a apresentação com recomendações de equipamentos para produzir etanol especial e formas de otimização e controle de processos.
Palestra diferencial
A Reunião Anual de 2024 terminou com muita motivação com um dos maiores atletas do Brasil dos últimos tempos, o nadador Gustavo Borges. Medalhista em três Jogos Olímpicos (Barcelona em 1992, Atlanta em 1996 e Sidney em 2000), Borges falou sobre sua trajetória que trouxe muita inspiração aos participantes para enfrentarem os desafios desta e da próxima safra.
Prêmio Excelência
O primeiro dia da Reunião Anual da Fermentec termina com um reconhecimento às inovações e melhorias promovidas por seus clientes que aumentam a eficiência seja no laboratório ou na indústria. É o Prêmio Excelência Fermentec, uma tradição da Reunião Anual. Confira os vencedores da edição de 2024 do Prêmio Excelência Fermentec:
Categoria Amostragem
Categoria Estrutura Laboratorial
Categoria Desempenho Analítico Químico
Categoria Desempenho Analítico Microbiológico
A usina Novo Milênio-Mirassol D´Oeste recebeu a homenagem posteriormente
Categoria Pioneirismo
“Acondicionador refrigerado das amostras de bagaço no amostrador contínuo” (Validação Fermentec)