A colheita mecanizada trouxe mais desafios para a agrícola que precisa lidar com a cana crua. Além da quantidade maior de impurezas vegetal e mineral, é necessário evitar uma série de problemas causados por colhedoras, pragas, etc. Esses problemas foram abordados na Reunião Anual, assim como novas soluções no campo para aumentar a produção de etanol e melhorar a amostragem da matéria-prima quando chega à indústria.
Estudo avalia alterações nas amostragens de cana
Claudemir Bernardino coordenou um estudo para analisar diversos pontos do caminhão (frente, meio e fundo, partes superior e inferior) e verificar se há alteração na fibra, POL de cana, pureza, AR e ART. Foram avaliadas 37 cargas, sendo que em nove delas foram realizados testes de impureza mineral e em 14 de impureza vegetal. Confira alguns resultados da pesquisa:
Fibra: na parte inferior da frente foi maior que a fibra da parte inferior e superior do fundo da carga, ambas com diferenças, significativas a 10% de probabilidade.
POL: não apresentou diferença significativa;
Pureza: não houve diferenças significativas, seja em dias secos ou com chuva;
POL%cana: na parte inferior da carga no fundo foi maior que a Pol % Cana da parte inferior da frente assim como do furo superior do fundo, ambas com diferença significativa a 5% de probabilidade;
AR: não houve diferença significativa;
ATR: nos dias com chuva o ATR na parte inferior do fundo da carga foi maior que a parte inferior da frente da carga, assim como a parte superior no fundo da carga, ambas com diferenças significativas a 5% de probabilidade.
Impurezas vegetais: não houve diferença significativa;
Impurezas minerais: a parte inferior da carga se apresentou com mais Impureza Mineral que os furos da parte superior da carga, com diferença significativa com 5 % de probabilidade.
Com este trabalho, foi constatada a necessidade de fazer a furação na amostragem em duas etapas, pois a impureza mineral em dias secos foi significativamente maior na parte inferior da carga em relação à parte superior. Também foram realizados testes com impurezas mineral e vegetal pelas metodologias de prensa e digestor.
Pelo método da prensa houve diferenças dos resultados de fibra % cana entre as diferentes distribuições da terra em relação à amostra e na fibra e pol % cana em comparação com as concentrações e aos diferentes tipos de terra. No digestor não ocorreram diferenças significativas com esses parâmetros, portanto a prensa tem se mostrado mais sensível às impurezas minerais. “Todo este trabalho mostrou que o procedimento de amostragem de cana com duas perfurações na carga e na parte central da carga se mostrou adequado às necessidades e explica porque a Fermentec continua indicando as análises do digestor para os cálculos de balanço de ART e eficiências industriais e a prensa para o sistema de pagamento da cana”, concluiu Bernardino.
Plantio alternado e sistematização são caminhos para evitar perdas
Para evitar o pisoteio excessivo da cana a mudança no espaçamento é uma alternativa viável para o aumento de produtividade. Com a adaptação no canavial de duas linhas de 1,5 metros e a do meio com 90cm a colhedora consegue colher duas linhas de uma só vez. Esse foi o exemplo apresentado por Cássio Paggiaro, da empresa Raízen, que com estas mudanças fez o custo com corte, carregamento e transporte cair de 50% em 2009 para 34% em 2012.
Na mesma linha, José Alencar Magro, da Campofértil, chamou a atenção para a distinção entre a linha de cana e a linha de tráfego para não perder matéria-prima com o pisoteio. Para fazer a adaptação, o terreno deve estar livre de erosão e descompactado. É preciso eliminar elevações e depressões em curta distância, pois sem o alisamento do terreno irá impureza mineral para a indústria.
O sulco precisa ser reto, mesmo em terreno acidentado. Deve haver também um terraço por talhão, mas baixo para evitar o tombamento da colhedora. Os sulcos devem estar paralelos, na mesma distância, senão a esteira passa sobre as canas não colhidas e a colhedora fica longe ou muito perto do transbordo, danificando o elevador.
Cana-energia aumenta produção de etanol
A cana-energia é duas vezes mais produtiva que a cana convencional, tem baixo teor de sacarose e alto teor de fibra. Sua soqueira é mais longeva e mais resistente a pisoteios, stress ambiental, nutricional, hídrico e doenças, além de suportar solos mais pobres, ter melhor capacidade de brotação e razão maior de multiplicação. Quem explicou as vantagens desta variedade na Reunião Anual foi Sizuo Matsuoka, da Vigns.
Este tipo de cana, desenvolvido por americanos em Porto Rico, pode produzir 12.938 litros de etanol contra 3.609 litros da cana normal, em um quilo por hectare em base seca. Além da produtividade, a cana-energia apresenta diversas vantagens ambientais, como sequestro de carbono no solo alto e imediato, baixo escorrimento de nitrogênio, menor erosão do solo (devido ao sistema radicular), menor consumo de fertilizantes e pesticidas, menor competição por solo (podem ser plantadas em solos piores), menor uso de área para a mesma produção de energia e amenização da temperatura ambiente.
O desafio de combater as pragas no canavial
Além de levar mais impurezas para a indústria, a cana crua trouxe dificuldades para o controle de pragas. Isso porque o fogo, que antes contribuía para reduzir as populações principalmente do sphenophorus e da Cigarrinha, não existe mais e abriu caminho para essas populações se multiplicarem ainda mais no canavial. A pesquisadora do Instituto Agronômico de Campinas, Leila Dinardo, afirmou que dificilmente haverá um número de variedades resistentes a todas as espécies de pragas e nematoides e não será fácil de livrar deles mesmo com as culturas transgênicas.
Segundo Leila, o sphenophorus e o migdolus são as pragas que mais exigem atenção porque são muito mais difíceis de controlar em relação à broca e à cigarrinha. Eles são protegidos pelo solo ou rizomas e é preciso contaminar muito o local onde ele se alimenta. Suas populações aumentam à medida que o canavial envelhece e causam muitos danos. Outro agravante é o poder de disseminação com as mudas, podendo se alastrar para diversas regiões.