Utilização racional de resíduos industriais na lavoura canavieira a estratégia ótima de aplicação.
A utilização dos resíduos industriais torna-se um relevante fator para a análise do risco operacional agroindustrial apurado pelo Rating BENRI, em virtude da heterogeneidade existente no setor sucroenergético brasileiro em termos de: (i) localização geográfica das unidades, (ii) composição dos ambientes de produção agrícola, (iii) distribuição das áreas contíguas sob gestão da unidade (muitas vezes intercaladas às áreas de fornecedores de cana-de-açúcar) e (iv) características técnicas dos procedimentos de extração e fermentação das usinas.
Desse modo, a viabilidade econômica da aplicação de resíduos industriais se dá a partir de inúmeros fatores intrínsecos à operação da unidade, tal como citado anteriormente, de modo que a estratégia ótima de aplicação dos resíduos deve ser o resultado de um estudo técnico e uma análise de custo benefício conduzidos pela usina.
Benefícios do uso de resíduos industriais
Dentre os benefícios, vários trabalhos técnicos demonstram a existência de ganhos de produtividade e longevidade agrícola a partir do uso agronomicamente correto de resíduos industriais, sobretudo em ambientes de produção classificados como “restritivos” e regiões com elevados déficits hídricos.
De fato, ambientes agronomicamente restritivos mostram-se mais responsivos ao uso racional dos resíduos. Ademais, o uso de sistemas de irrigação a partir de águas residuárias torna-se uma estratégia interessante em regiões onde a obtenção de outorga para utilização de recursos hídricos dos rios é escassa.
Não obstante, a análise técnica revela benefícios agronômicos auferidos pela aplicação de resíduos industriais na lavoura quando comparada à adubação química. Estes impactos positivos são observados na vida microbiana do solo a partir da adição de matéria orgânica.
Vale ressaltar que a utilização racional da vinhaça não só contribui para a elevação no teor de ATR/tonelada de cana, como também soluciona eventuais entraves ambientais relacionados a aplicação adequada dos afluentes líquidos, de acordo com o art. 8º da resolução nº164 do Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM).
Vale salientar ainda que a utilização racional dos resíduos industriais, implica em menores aquisições e uso de adubos nitrogenados pelas unidades produtoras, o que, por sua vez, impacta positivamente na RenovaCalc do Programa RenovaBio, pois, enquanto os fertilizantes sintéticos representam cerca de 33% da intensidade de carbono aferida na Nota de Eficiência, os fertilizantes orgânicos representam apenas 8% (Imagem 1). Dessa forma, as unidades que utilizam mais fertilizantes orgânicos, provenientes de resíduos industriais, emitem uma quantidade maior de CBIOs (crédito de descarbonização do programa RenovaBio).
Resíduos industriais e a viabilidade econômica
No que diz respeito aos custos da utilização, estudos demonstram que há uma distância econômica que estabelece um limite máximo para que sua aplicação seja economicamente viável (dado pelo preço do adubo químico, o sistema de transporte utilizado pela usina e a concentração de potássio da vinhaça). Nesse sentido, com a adoção de estratégias técnicas que possibilitem à diminuição volumétrica dos resíduos, com o consequente aumento da concentração dos nutrientes agrícolas, torna-se possível conter custos logísticos relacionados à distribuição da vinhaça e torta de filtro mais cinzas, na forma de compostagem. Dando ênfase ao uso dos resíduos de forma racional, realmente como fertilizantes, visando suprir as necessidades nutricionais da cultura canavieira.
Nos últimos anos está havendo um incremento significativo da utilização da aplicação localizada da vinhaça, com foco na adubação. Vale ressaltar que em safras com o mix industrial mais açucareiro, existe uma otimização da utilização da vinhaça como fertilizante, pela concentração dos nutrientes agrícolas (Tabela 1), o que aumenta significativamente o total de áreas tratadas.
Tabela 1: Composição da Vinhaça. Fonte: Fermentec.
Além disso, na última safra principalmente, houve um incremento significativo nos preços dos fertilizantes sintéticos, o que torna o uso dos resíduos industriais ainda mais impactante para os resultados operacionais e econômicos das unidades produtoras do setor sucroenergético. Para exemplificar, o Gráfico 1 abaixo demonstra como as unidades mais eficientes do setor, representadas pelo Rating AAA, e mesmo aquelas com eficiência média, representadas pelo Rating B, aumentaram a utilização de resíduos industriais nos últimos anos.
A porcentagem de utilização de resíduos industriais é um indicador de performance operacional agrícola de importância tanto econômica, como ambiental. Recentemente, as usinas no Brasil vêm adotando cada vez mais o uso da compostagem em larga escala, diminuindo a aplicação de torta e cinzas separadamente e transformando os pátios de compostagem em “fábricas de adubo orgânico”.
A título de ilustração, há inúmeros procedimentos que podem reduzir o volume de resíduos produzidos ao longo do processo industrial. Um deles é o teor alcoólico praticado nas dornas e a consequente redução no volume de vinhaça com a concentração do potássio ou a própria concentração da vinhaça na indústria.
Outro fator diz respeito às estratégias de aplicação, como, por exemplo: (i) a instalação de adutoras, para utilizar menos caminhões na distribuição da vinhaça e tornar a operação mais econômica e a (ii) adoção da compostagem da torta de filtro mais cinza, que possibilita a concentração dos nutrientes desejáveis e a redução do teor de umidade, o que eleva a viabilidade econômica.
Diante destes fatores, o BENRI analisa o indicador de utilização dos resíduos industrias como um dos riscos operacionais avaliados no conjunto de atividades agrícolas conduzidas por uma unidade produtora de cana-de-açúcar, açúcar, etanol e energia.
Otávio Henrique de Souza Tufi
Engenheiro Agrônomo e Coordenador Agrícola do BENRI
Utilização racional de resíduos industriais na lavoura canavieira. Conteúdo da empresa Benri, patrocinadora do Webmeeting Fermentec 2022 Reunião de Início de Safra.