Após dois anos de interrupção, a Fermentec volta a realizar a sua Reunião Anual presencial no Centro de Convenções de Ribeirão Preto. O reencontro aconteceu no ano em que a Fermentec celebra os 45 anos e foi marcado pelo recorde de público com a presença de 736 pessoas que lotaram o auditório. Nos últimos dois anos, a Fermentec manteve a reunião no formato on-line com os webmeetings.
Nesta edição de 2022, os clientes Fermentec conferiram as atualizações sobre as leveduras, processos industriais, açúcar, além de um painel exclusivo que abordou de forma global o etanol de milho, desde as tecnologias para produção, passando por oportunidades de mercado e acesso a investimentos. Além das palestras, o evento também conta com uma feira em que 28 empresas puderam expor seus mais recentes lançamentos.
Confira um resumo da Reunião Anual da Fermentec de 2022:
Primeiro dia
Abertura
O presidente da Fermentec, Henrique Berbert de Amorim Neto, abriu a Reunião Anual de 2022, que celebra o aniversário de 45 anos da empresa, com uma reflexão sobre presente, passado e futuro com foco no tripé que sempre norteou as atividades: pesquisa, consultoria e capacitação de pessoas. Nos últimos 10 anos foi associada a esse tripé a área de engenharia que liderou projetos nas áreas de produção de etanol de cana, milho e melaço de soja, além de fábrica de açúcar e de leveduras secas. Toda a expertise acumulada ao longo desses 45 anos já foi medida e traduzida em números. Para cada um real investido pelo cliente, a Fermentec gerou um retorno de 240 reais, ou seja, foram mais de R$ 12 bilhões em otimização de recursos “a obstinação pelo conhecimento é o nosso grande valor para trabalharmos neste setor tão importante, que é um dos motores da economia brasileira”, concluiu Amorim Neto.
O fundador da Fermentec, Henrique Vianna de Amorim, reforçou a importância da análise estatística ao setor e para a história da empresa. O professor Amorim relembrou que ao iniciar consultoria com as usinas em 1977 fez uma análise estatística dos últimos cinco anos que revelou uma série de características do processo. Com muita pesquisa e experimentos, foi possível compreender o comportamento da fermentação e chegar a evoluções que permitiram a redução do tempo de produção e da contaminação e aumento da eficiência “tudo isso nos deu a base para o que fazemos hoje”, afirmou o professor Amorim.
Na terceira apresentação da abertura da Reunião Anual, Silene de Lima Paulillo, destacou o papel da Fermentec na educação. A empresa iniciou o Programa de Articulação da Formação Profissional Média e Superior em parceria com o Centro Paula Souza com o curso de química da Etec e Fatec de Piracicaba. Por meio deste convênio de cooperação técnico-operacional, os estudantes terão uma vivência do mercado de trabalho e vão adquirir conhecimento além da química, com preparação para entrevistas, elaboração de currículo, entre outras habilidades. Os alunos, inclusive, estiveram presentes na Reunião Anual.
Encerrando as palestras da abertura da Reunião Anual, Alexandre Barreto lançou o hub de inovação. A iniciativa, liderada pela Fermentec, vai integrar empresas, usinas universidades e startups formando um ecossistema para gerar um entendimento em cadeia e mitigar as dores do setor. Por meio de mentorias e workshops, serão promovidos desafios para estimular novas ideias. Todas as empresas que participaram da Reunião Anual estão convidadas a participar do hub de inovação.
Indústria e açúcar
Na primeira palestra técnica do dia, Guilherme Marengo Ferreira apresentou a tecnologia X-TRALEV que recupera e seca o levedo utilizado na fermentação. A recuperação dessa biomassa do processo, além de potencializar a produção de levedura seca, que traz receita para a usina, reduz os impactos ambientais, o consumo de vapor e evita problemas de incrustações nos aparelhos de destilação. A tecnologia melhora o manejo da vinhaça minimizando problemas com mau cheiro, entre outros. Na palestra, Ferreira também apresentou o projeto executivo deste conceito na destilaria Soderal, no Equador.
Rudimar Cherubin detalhou a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 331/2019, da Anvisa, que envolve toda a cadeia produtiva de alimentos. A RDC determina padrões microbiológicos para o fornecimento de alimentos prontos para os consumidores. Um padrão microbiológico é um conjunto de critérios que avaliam a presença, ausência ou população de microrganismos, bem como concentração de toxinas ou metabólitos em quantidades que não afetem a saúde dos consumidores. A RDC estabelece as metodologias que devem ser utilizadas na coleta, acondicionamento, transporte e análise de alimentos, entre outros procedimentos. Cherubin também explicou os critérios da resolução para classificação do açúcar.
O guaiacol é um composto orgânico produzido por bactérias que vem preocupando a indústria de bebidas. Estudo feito pelo ITAL identificou 22% das amostras de suco contaminadas pelo guaiacol. Mário Lucio Lopes mostrou como a Fermentec está pesquisando as amostras das usinas utilizando as metodologias ICUMSA, mais tradicional no setor, e com PCR (método rápido) que está em desenvolvimento. Das amostras analisadas, 70% apresentaram bactérias produtoras de guaiacol. Os métodos moleculares abrem uma nova perspectiva para as análises capazes de detectar as bactérias produtoras de guaiacol.
Assim como a usina, a levedura também pode alterar o seu “mix de produção”. Segundo Eduardo Borges, a levedura pode produzir diferentes coprodutos dependendo das condições da fermentação. Depois do etanol e do gás carbônico, o glicerol é o principal coproduto da levedura. Entre os ácidos, o succínico é o principal que também influencia a produção de glicerol. Borges também mostrou que são necessários 2,5 gramas de açúcar para produzir um grama de biomassa, mas essa conversão depende das condições do processo.
A quantificação do ART do mosto é uma das principais medições que devem ser monitoradas nas unidades produtoras de etanol, sejam as destilarias anexas ou autônomas. Claudemir Bernardino apresentou alguns cases com comparativos entre o volume de mosto obtido por diferenças entre vinho e cuba, medidos por réguas nos respectivos costados e pelos diferentes tipos de medidores de vazão. Resultados preliminares abrem a possibilidade do uso dos medidores de vazão para a quantificação do ART do mosto e, consequentemente, a obtenção do rendimento geral da destilaria.
Painel de etanol de milho
A Reunião Anual de 2022 conta com um painel exclusivo para o etanol de milho. Quem abriu as atividades foi Alexandre Godoy, que explicou como é feita a fermentação com milho e os avanços tecnológicos para elevar a produtividade. Com o StarchCane, tecnologia desenvolvida pela Fermentec, com uma tonelada de milho é possível produzir até 455 litros de etanol, até 350 quilos de DDGS e entre 18 e 20 litros de óleo. Todos eles produtos com alta demanda no país. O StarchCane é a primeira tecnologia do mundo para fazer a fermentação de milho com o reciclo de leveduras. As elevadas produtividades viabilizam a produção de etanol em qualquer lugar do Brasil.
Ronan Giulianeli, diretor da AgroGalaxy, explicou o funcionamento da plataforma B2B (business to business) que integra pequenos e médios agricultores com serviços da agroindústria. A empresa está presente em 12 estados e em mais de mil municípios no Brasil. O trabalho da AgroGalaxy é fazer a originação de grãos com operação própria ou parceiros, o que garante mais flexibilidade aos agricultores na venda do milho. Hoje a plataforma origina um milhão de toneladas de milho com 65% do volume produzido nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil.
O sócio-proprietário da Vinculum Agro, Ângelo Pedrosa, falou sobre o potencial do mercado de DDGS, o subproduto da fermentação do etanol de milho, nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Hoje o mercado de nutrição animal no país consome 85 milhões de toneladas de milho e soja e conta com mais de três mil fábricas de ração, a maior parte localizada nas regiões Sudeste e Centro-Oeste que também contam com grandes rebanhos de gado de corte, um cenário favorável para comercialização de DDGS com grande capacidade de exportação pelos portos brasileiros.
O presidente da União Nacional do Etanol de Milho (UNEM), Guilherme Nolasco, afirmou que após anos de preços baixos, houve uma valorização do grão o que exige maior viabilidade de produção para suportar esse aumento do valor do milho. De acordo com Nolasco, o setor está saltando de uma produção de 380 litros de etanol por tonelada de milho para 440. Antes a participação do DDGS e do óleo de milho no preço do grão era de 50%. Agora já foi reduzido para 26%. Atualmente existem 18 usinas de etanol de milho em operação, seis em ampliação e nove com autorização de construção. A UNEM prevê que na safra 2030/31 a produção do etanol de milho pode chegar a 9,6 bilhões de litros.
Etanol de milho também é uma oportunidade para o produtor de cana. Quem afirma é o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de São Paulo, Azael Pizzolato. Segundo ele, o milho pode ser um complemento da cultura de cana sendo uma opção para a reforma do canavial com o aproveitamento do mercado consumidor que hoje compra a cana, já que o etanol de milho é uma realidade brasileira. Pode ser uma saída para produtores que buscam diversificar os negócios.
O diretor comercial da Combio Energias Renováveis, Gustavo Marchezin, apresentou os benefícios do setor em terceirizar o fornecimento de energia térmica e elétrica renováveis. O Brasil tem vocação para a biomassa com cultivo de eucalipto e pinus, além dos resíduos da agricultura. A terceirização é atuar em toda a cadeia de energia, ou seja, implantar uma indústria dentro da indústria para gerar energia térmica utilizando biomassa. Marchezin apresentou na Reunião Anual alguns modelos que podem ser adotados na geração de energia.
O diretor de infraestrutura da Swell, Douglas Lucio e Silva, explicou como funciona o Consórcio Corn Capital que está investindo na construção de usinas produtoras de etanol de milho impulsionada por uma projeção de demanda crescente de energia a cada ano. O consórcio, formando pela Swell, pela alemã Brid e pela Fermentec, vai unir tecnologia e produtividade. Silva afirma que o milho vai abrir as portas do Brasil para o mundo.
Segundo dia
Quase quatro bilhões de litros de etanol. Este é o resultado alcançado pelas leveduras personalizadas na safra 2021/2022, que corresponde a 15% da produção nacional de etanol. Em 2008, duas usinas utilizavam duas leveduras personalizadas. Já em 2022, 38 usinas possuem juntas 71 leveduras personalizadas. Durante a apresentação, Silene de Lima Paulillo e Claudemir Bernardino explicaram o crescimento ao longo de sete safras e mostraram as vantagens da usina em ter a própria levedura com uso associado das selecionadas para proteger a fermentação. Também foram apresentados alguns parâmetros e a diferença nos números no comparativo com e sem leveduras personalizadas.
Mário Lucio Lopes destacou o papel da biotecnologia na seleção de leveduras. Entre as aplicações da biotecnologia, foram apresentados três estudos em andamento relacionados a fermentações industriais, melhoramento genético, análises de DNA e transformações genéticas. Um deles é o uso do ácido succínico, produzido pelas leveduras, para o controle da contaminação na indústria de etanol orgânico. O segundo estudo apresentado foi sobre seleção de leveduras não floculantes. Já o terceiro usa a edição gênica para tornar as leveduras industriais resistentes a um inibidor vegetal usado para combater as leveduras contaminantes, floculantes e espumantes.
Há diversos fatores que afetam a fermentação alcoólica, um deles é o pH. Não há como fazer a correção do pH durante a fermentação, apenas no início do tratamento ácido. Fernando Henrique Giometti alertou sobre a importância de se monitorar esse parâmetro e apresentou a relação das variações do pH com diferentes composições do mosto, características do tratamento do levedo e fermentação.
Thiago Mesquita abordou a gestão de rotina que torna possível entender o que está sendo feito, medir o desempenho atual e testar novas maneiras de se fazer algo. Na etapa de testes entra o ciclo DEMAIC, um acrônimo para definir, medir, analisar, melhorar (improve) e controlar. É um roteiro para promover melhorias contínuas. Logo, para gerenciar é preciso ter dados, que devem ser confiáveis, robustos e transparentes. Nesse contexto, o GAOA é uma tecnologia que permite a gestão dos dados do processo com armazenamento em nuvem, análise de dados baseada em big data e aprendizado de máquina, além de outros recursos capazes de informar condições do processo em tempo real, evitando perdas e mantendo a competitividade.
Giovanni Rabesco, gestor de projetos de etanol da usina Goiasa, apresentou as mudanças que foram feitas na estrutura, nos equipamentos da indústria, na propagação e introdução de novas leveduras, inclusive uma personalizada. A unidade, localizada em Goiatuba, Goiás, iniciou as alterações em 2020 que já estão mostrando os resultados. As alterações na indústria reduziram o consumo de ácido sulfúrico, antibiótico e dióxido de cloro. Já o monitoramento de leveduras permitiu a redução da floculação de 24% para 11%.
Max Gehringer encerrou com chave de ouro a Reunião Anual 2022 que celebrou os 45 anos da Fermentec. Um dos maiores especialistas em carreira e gestão do Brasil inspirou todo o público a buscar o desenvolvimento pessoal e profissional.
Prêmio Excelência Fermentec
Todos os anos a Fermentec faz uma homenagem para as usinas que se destacaram nas categorias amostragem, estrutura laboratorial, desempenho analítico químico, desempenho analítico microbiológico e pioneirismo. Confira os vencedores:
Categoria amostragem
Categoria estrutura laboratorial
Categoria desempenho analítico químico
Categoria desempenho analítico microbiológico
Categoria pioneirismo