A Reunião Início de Safra 2023 voltou ao formato presencial para preparar os clientes rumo a uma nova jornada de desafios e conhecimento. Realizado no dia 8 de março em Piracicaba, SP, o evento com o tema “Ação além da estratégia” reuniu mais de 200 profissionais de usinas e destilarias de todo o Brasil que puderam conferir as novidades nas áreas de pesquisa, engenharia e controle analítico, além das perspectivas para a safra 2023/24 nas áreas agrícola e industrial.
O presidente da Fermentec, Henrique Berbert de Amorim Neto, abriu a Reunião destacando o tema do evento, em que a estratégia e a ação devem andar juntas para a geração de valor e resultados. Para isso, a Fermentec tem uma expressiva base de pesquisa e desenvolvimento que se refletem na otimização dos processos industriais. Durante a abertura, Amorim apresentou novidades, como nova levedura para o processo fermentativo, pesquisas e iniciativas que vêm se consolidando, como a fermentação com melaço de soja, dentro do conceito do uso de novas matérias-primas para a produção de etanol e outros produtos de valor agregado.
Novas metodologias, indicadores, tecnologia e muito conhecimento foram o foco da Reunião Início de Safra de 2023. Confira o resumo das apresentações:
Levantamento feito pela Pwc revela que 1/3 dos CEOs não acredita que suas organizações serão economicamente viáveis nos próximos 10 anos se for mantido o rumo atual. Além disso, as organizações enfrentam o desafio de se reinventarem paralelamente às tarefas do dia a dia diante de um mundo disruptivo. O mesmo levantamento também apontou que muitas empresas estão elaborando estratégias sem levar em conta as emissões de carbono. Foi com a apresentação do atual cenário que a conselheira fiscal da Raízen e consultora em ESG, Ana Paula Malvestio, iniciou sua palestra na Reunião Início de Safra, com o alerta sobre a importância da governança não só na empresa, mas em toda a cadeia produtiva. E nesta seara entra o ESG e a vanguarda do setor sucroenergético brasileiro. Segundo Ana Paula, não é preciso escolher entre retorno e sustentabilidade e o Brasil está muito bem posicionado na produção de energia limpa, um objetivo que o mundo inteiro está buscando, mas ainda há muito a fazer na jornada do ESG e as pessoas terão um papel cada vez mais fundamental no uso eficiente das tecnologias.
Rudimar Cherubin apresentou um resumo dos principais indicadores agroindustriais da safra 2022/23 das unidades assistidas pela Fermentec. Além dos dados desta safra, foi apresentado um estudo comparativo entre todas as usinas assistidas aplicando os dados acumulados das últimas 5 safras, ou seja, entre 2017 e 2022. Nesse estudo são observadas as tendências dos indicadores agroindústrias que fornece informações importantes para o direcionamento de investimentos e tecnologias no setor sucroalcooleiro. Os dados das usinas foram separados em quatro grupos ordenados de acordo com o RTC, um grupo de maior eficiência, um grupo de menor eficiência e dois intermediários. O mesmo estudo foi realizado formando grupos de acordo com o RTC. Com os resultados, foram aplicados testes estatísticos para a determinação dos parâmetros mais importantes e impactantes sobre o RTC e sobre o RGD. Na conclusão, foi apresentado um quadro com parâmetros mais importantes, os quais podem ser usados como referência para usinas com alta eficiência industrial. Esse quadro caracteriza as unidades com maior eficiência. Para a safra que se iniciará, Rudimar afirmou que há uma tendência de aumento na produção (toneladas) e de produtividade de cana (toneladas/ha), devido às condições climáticas, porém ainda é prematuro afirmar de quanto será essa elevação. A tendência também será de uma safra com o mix voltado ainda mais para açúcar.
Otávio Tufi, do Benri, mostrou em sua palestra na Reunião Início de Safra que o setor está voltando a plantar mecanicamente com aumento em índices importantes para a agrícola. A área plantada mecanicamente teve aumento de 13,72% no último ano. O rendimento médio das colhedoras também aumentou em 6,64%, número atribuído à melhoria do índice de tonelada de cana por hectare. O consumo médio de mudas reduziu, dado que é muito representativo, visto que a muda é o insumo mais caro do plantio. Estes são alguns dados que fazem parte da classificação agrícola, o rating do Benri. Para Tufi, a expectativa para a próxima safra é de aumento da área plantada de forma mecanizada com declínio no consumo de óleo diesel, ampliação da área fertilizada por vinhaça e composto e aumento da tonelada de cana por hectare, que deve variar em maior ou menor nível a depender da taxa de reforma do canavial, principalmente os mais afetados pelas intempéries climáticas dos últimos anos.
As perdas por destruição térmica dos açúcares em usinas foi o tema da palestra de Fernando Henrique C. Giometti. A exportação de bioeletricidade pelas usinas é uma importante fonte de receita, mas pode expor o açúcar do caldo a altas temperaturas por mais tempo, o que provoca perdas de açúcar por degradação térmica. Fernando Henrique apresentou as principais causas para a destruição do açúcar, como a temperatura, o pH e o tempo de retenção, que são fatores relevantes para determinar a intensidade dessa degradação, a importância do monitoramento e como realizá-lo corretamente, além de estudos de caso de usinas. Entre as medidas para minimizar a degradação estão o uso de cana limpa e fresca, bom sistema de controle de pH do caldo, dimensionamento adequado da evaporação (projeto, arranjo e performance), eficiência do dessuperaquecimento e na geração de vácuo da evaporação, limpeza operativa e alta recuperação dos sistemas de cozimento.
Claudemir Bernardino, André Ferrisse e Fernando Ré fizeram uma palestra conjunta em que abordaram a frequência analítica do laboratório e recomendam a realização de análises pelos colaboradores do processo. O boletim de médias semanais contará na safra 2023/24 com um novo layout e agora os clientes vão enviar os dados para a Fermentec via Portal do Cliente, que vai promover mais agilidade e flexibilidade no envio e processamento. O boletim semanal contará com um novo parâmetro, o monitoramento da perda de açúcar na evaporação). Já na avaliação mensal serão inseridos dados sobre a vinhaça (L Vinhaça/L Etanol, potássio na vinhaça Kg/m3) e sobre o volume de água residuária. Comentaram também sobre as novas tecnologias para o indicador RGD, dando ênfase ao acompanhamento e validação do amostrador contínuo e ponderal de mosto.
Abrindo as palestras do período da tarde da Reunião Início de Safra, Thiago Mesquita explicou o conceito do GAOA – Gestão Avançada e Operação Assistida – uma tecnologia de inteligência artificial desenvolvida pela Fermentec para a gestão e controle dos processos da indústria. É a transformação dos dados em ação, da informação em otimização. A análise de dados é baseada em quatro níveis. O descritivo responde à pergunta: o que aconteceu? Nível diagnóstico: por que isso está acontecendo? No nível preditivo: o que acontecerá? E finalmente o nível prescritivo: o que devo fazer? À medida em que se avança nos níveis, as tarefas se tornam mais complexas. Por isso, a Fermentec atua em todos esses níveis para identificar os pontos necessários de desenvolvimento para cada cliente. O GAOA faz as análises nesses níveis e gera visualizações em diversas dimensões que promove agilidade na tomada das decisões na usina.
O tema da palestra de Mário Lucio Lopes foi a nova classificação dos lactobacillus, bactérias resistentes e a metagenômica. Em sua apresentação, Mário voltou a 1989 quando o pesquisador Claudio Gallo descobriu mais de 300 bactérias que podem estar presentes na fermentação alcoólica e fez uma reflexão sobre as mudanças pelas quais o setor passou desde aquela época. A preocupação com as bactérias se justifica. Para uma destilaria com uma produção diária de 1 milhão de litros de álcool, para cada aumento em dez vezes no número de bactérias, a unidade perde 19 mil litros, o que corresponde a uma perda de mais de 52 mil reais por dia. Por isso, o papel da metagenômica para o setor é fundamental porque permite não só conhecer a diversidade das bactérias, mas fazer novas classificações. A partir desse conhecimento é possível saber como as bactérias afetam o processo, fazer ajustes na indústria e aumentar a eficiência dos produtos antibióticos na fermentação.
Encerrando as palestras técnicas da Reunião Início de Safra 2023, Silene de Lima Paulillo, fez uma viagem pela história da seleção de leveduras ao longo dos últimos 46 anos e apresentou os dados da dinâmica populacional da última safra. Selecionada em 1990, a levedura PE-2 se mantém até hoje na liderança, sendo a mais utilizada entre os clientes Fermentec. Chega a 80 o número de usinas que usaram a PE-2. Mais recentemente, as leveduras Personalizadas já somam 71 linhagens presentes em 36 usinas. Durante a safra 2022/23, as leveduras Personalizadas foram responsáveis por 14% da produção do etanol do Brasil. A análise envolveu 114 destilarias, 552 amostras e mais de 7600 perfis de DNA. A CAT-1 e a FT 858L já foram validadas para a produção de etanol de milho. Já a SOY-1 e SOY-2 são utilizadas na fermentação de melaço de soja.
Claudemir Bernardino fez o encerramento da programação da Reunião Início de Safra Fermentec 2023 destacando que é na Diretoria das empresas que se define a estratégia das empresas, contudo na operacionalidade do processo de produção que tudo acontece, por isso que as decisões em relação as ações, também se deve pensar com estratégia, considerando que existem ferramentas para se alcançar uma assertividade maior. Outro ponto alertado, foi a importância da parceria da Fermentec com os clientes, essa tem sido fundamental para obtenção dos resultados, assim como para as inovações que permite alcançar aumento na eficiência industrial e diminuição de custos. “A capacidade de uma organização para aprender e traduzir rapidamente essa aprendizagem em ação é uma vantagem competitiva decisiva” (Jack Welch).